segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Separação na maturidade

Juntos há 40 anos, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e sua mulher, Mary Elizabeth Tipper Gore, estão se separando.  O casal disse aos amigos que o fim do casamento foi de comum acordo e que eles estavam “crescendo separados”. A decisão surpreendeu não só pelo tempo de união, mas porque eles eram um ícone de relacionamento estável e feliz na política - chegaram a servir de contraponto na ocasião do caso extraconjugal entre o presidente Bill Clinton e sua estagiária Monica Lewinsk.

Gore e Tipper representam uma nova geração de casais que está se separando depois de relações longas e em um momento de vida mais maduro. “Esses casos estão aumentando. Era uma situação impensada no passado”, diz Magdalena Ramos, terapeuta de casais e família e professora do curso de psicologia da PUC/SP. “O motivo principal é que as pessoas não estão querendo mais tolerar situações pesadas e incômodas”, completa.

Já não é de hoje que o peso social do divórcio vem diminuindo. Soma-se a isso o aumento da qualidade e expectativa de vida, que no Brasil passou de 69,6 anos para 72,8 de 1998 a 2008, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso torna possível explorar o futuro de forma plena após o fim de um casamento longo.

Livres dos laços do relacionamento há mais espaço para explorar vontades individuais. Segundo Magdalena, para alguns casais os interesses podem ficar acirrados depois de muito tempo juntos. “Um gosta de viajar e sair e o outro quer ficar introspectivo em casa, por exemplo. Se o marido antes se esforçava para acompanhar a mulher nas atividades agora pode não querer mais. Aí vão perdendo os benefícios da relação”, explica.

Sem de bodas de ouro

Nancy Maria Garroux, 67, também estava casada há 40 anos quando se separou, há sete anos. Ela descobriu uma traição do marido e não aceitou m mais viver com ele. “Sempre o tratei muito bem. Quando soube que ele tinha outra foi um baque, mas tomei vergonha na cara, tive amor próprio e mandei ir embora de uma vez”.

Diferente do caso de Gore, o processo da família Garroux não foi amigável e se arrastou por anos na justiça. “Ele pensou que eu não ia fazer isso nunca”, diz Nancy. “Achou que eu estava muito bem e tentou tirar as coisas de mim: o carro, a casa e até a pensão”.

Uma coisa é saber que a decisão certa foi tomada. Retomar a vida sozinha é outra história. “Precisei de muita força de vontade, pensar no que eu passei de ruim e o que tinha de bom pela frente”, conta Nancy, mãe de quatro filhos - que ficaram do seu lado durante a separação. Os netos também deram uma força: ela passou a última semana hospedada na república da neta, no Paraná, mimando ela e as colegas de faculdade.

De maneira geral, em uma separação tardia o homem envereda mais pela procura de uma nova parceira mais jovem enquanto as mulheres focam na idéia de viver com mais tranqüilidade, avalia a psicóloga Magdalena. “Eles têm uma ilusão de conquista e possibilidades, e a mulher tem a ideia que vai viver mais em paz e fazer o que quer, principalmente se o marido demandava muito”, diz.

Viajar está entre as novas atividades atuais de Nancy, que não deixou de frequentar o baile nos finais de semana em Atibaia (SP), onde mora. “Nos 40 anos que vivi junto era amarrada, prisioneira e fazia tudo do jeito dele. Hoje eu faço o que quero” desabafa. O plano dela agora é arrumar um emprego, trabalhar durante a semana e dançar a noite “que é o que eu mais gosto”.
 
A segunda chance é para aproveitar

“Precisava viver algo que valesse a pena e o casamento não estava me dando isso”, conta Denise Rodrigues, 51, consultora de Recursos Humanos. Ela se separou em 2007 ao perceber que sua relação estava “uma pasmaceira só”. Hoje em Santos (SP), Denise na época morava em Palmas (TO) para acompanhar a carreira de juiz do marido, que passava os dias da semana no interior do estado. A distância física foi se tornando prática também: “tínhamos desejos diferentes e sexo era uma raridade”.

A mudança no relacionamento começou principalmente depois que ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2004. Após uma cirurgia e quimioterapia, foi necessária uma mudança de hábitos e as baladas foram trocadas por caminhadas e natação. “Eu tinha um ritmo. Ele passou a sair mais sozinho com os amigos pra poder fumar e beber a vontade, começou a não vir no fim de semana pra casa”, lembra Denise que hoje compete em um time de Triatlo.
As atividades separadas se transformaram em férias separadas e então, em separação de fato. “Por mais que tenha doído, dói menos que viver aquilo”, avalia. “Bati na trave, não vim pro segundo tempo para sofrer”.

Fonte: Portal Ig.


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